Os primeiros Anos

O desenvolvimento do ser humano é um processo contínuo de organização e reorganização das estruturas e funções de natureza biológica, psicológica e social. Este processo acontece devido à busca de uma adaptação e integração, tanto de elementos internos da criança como de elementos que fazem parte do ambiente.

O desenvolvimento motor da criança caracteriza-se pela aquisição da habilidade de movimentar-se utilizando a coordenação psicomotora, e utilizando de modo cada vez mais completo o esquema corporal e a lateralidade.

O desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação da criança com o meio social. É importante que a criança, ao se relacionar com o ambiente, perceba e manipule objetos, compare, estabeleça semelhanças e diferenças, ordene-os, encontre relações causais.

A área da linguagem caracteriza-se pelo progresso da crinaça na habilidade de comunicar suas ideias, desejos e interesses mediante o uso de palavras, gestos e sinais gráficos.

O desenvolvimento na área sócio emocional permite que a crinaça desenvolva sua autonomia, formando as bases de sua identidade pessoal.

O desenvolvimento de uma pessoa com Síndrome de Down apresenta diferenças se comparado ao desenvolvimento médio. Desde o início da vida, pessoas a Síndrome apresentam reações mais lentas do que as outras e possivelmente isso altere sua ligação com o ambiente.

A presença de malformações e alterações no desenvolvimento motor, principalmente na área motora fina, interferem tanto no desenvolvimento psicomotor propriamente dito, como na expressão afetiva do bebê. Rir e sorrir, por exemplo, dependem do tônus muscular e os bebês com Síndrome de Down, que têm hipotonia, podem apresentar dificuldade para rir e expressam-se mais pelo sorriso. Além disso, podem não elaborar o evento com a rapidez necessária para rir da situação, demora para processar as informações e responder a estímulos visuais e auditivos. Assim, sua reação em determinada situação pode não ser imediata, e também o sorriso pode ser mais curto e menos intenso. Deste modo, a reação afetiva do bebê e das crianças pode ser mais tênue. Estudos mostraram que a lentidão do bebê faz com que a mãe não associe a reação tardia dele à situação anterior e à sua própria comunicação. Se ela brinca, o bebê não reage imediatamente e ela interpreta como uma não-reação; depois o bebê sorri, mas ela não considera esse sorriso como uma resposta à sua brincadeira anterior. Com isso gera-se uma descontinuidade na comunicação mãe-bebê. A mãe tende a tentar compensar a falta de reação do bebê aumentando a estimulação tátil e intensificando o contato físico. De certo modo, ela tenta preencher as “lacunas” que percebe em sua comunicação com o filho. A reação do bebê acaba funcionando como um incentivo para que a mãe continue a estimulação.

O contato de olho também começa mais tarde e os estudos mostram que o olhar mútuo acontece cerca de duas semanas e meia mais tarde do que em crianças que não têm a Síndrome. O maior contato é observado entre quatro e cinco meses e é um dos recursos mais importantes que a criança com Síndrome de Down utiliza para conhecer o ambiente. Ela também usa olhares mais prolongados para conhecer o ambiente. Além do olhar mais prolongado, a criança permanece por mais tempo nessa fase do desenvolvimento, usando o olhar quando crianças sem a Síndrome já interagem com o ambiente e modificam seu comportamento a partir do feed back externo. Nesse sentido, a criança com Síndrome de Down começa a mostrar ligação com o ambiente mais tarde, dedicando-se por mais tempo a brincadeiras solitárias.

A vocalização é menos frequente durante os primeiros meses, aumentando no segundo semestre de vida. A reação mais lenta mostra que ela precisa de mais tempo para organizar sua resposta. A hipotonia e a pouca vocalização dão um aspecto de passividade ao bebê com Síndrome de Down. Entretanto, a diferença tende a diminuir e aos nove meses as reações são semelhantes às de outras crianças.

A idade pré-escolar é uma fase em que a criança passa da dependência à independência, aprende a falar, a marcha torna-se mais segura, o treino da higiene aumenta a autonomia e a exploração do ambiente amplia-se.

No aspecto motor, a criança corre com mais facilidade, sobe escadas, anda de bicicleta. No aspecto cognitivo, constrói brincadeiras que têm sequência, pode fazer classificação por cor, forma e tamanho, pode ter noção de número e quantidade. Na comunicação, esse é um período em que a criança pode usar frases, inicialmente com duas ou três palavras e depois aumentando à medida que se desenvolve. No aspecto sócio emocional, a criança desenvolve brincadeiras com outras crianças, liga-se a crianças do mesmo sexo e apresenta interesse em amizades individuais.

A criança com Síndrome de Down na idade pré-escolar encontra-se em processo de aquisição da independência motora, fato que limita a exploração do ambiente. As atividades de autocuidado são mais reduzidas e a participação da criança na alimentação, higiene e vestuário é limitada, tanto devido ao seu ritmo diferenciado como pela falta de oportunidade de participar.

Embora sejam observadas alterações na comunicação expressiva, compreensão, socialização e resolução de problemas, essas alterações não impossibilitam a independência na vida cotidiana no que se refere à comunicação e à resolução de problemas.

Geralmente, dos cinco aos sete anos acontece uma transição na vida da criança, quando alterações qualitativas são observadas. As crianças de modo geral, começam a apresentar-se mais responsáveis, capazes de compreender situações complexas e entender melhor as outras pessoas e a si mesma. Crianças com Síndrome de Down também vivenciam essa transição.