EDUCAÇÃO

Atividades que estimulam

Há muito questionamento sobre a educação escolar da pessoa com Síndrome de Down. Alguns estudos tem sido realizados sobre o desenvolvimento cognitivo, assim como experiências de escolarização.

Considerando a evolução observada nos três primeiros anos, o desenvolvimento posterior da criança com a Síndrome de Down pode apresentar diferenças em relação às outras crianças. As situações de aprendizagem se tornam mais complexas, solicitando funções mais evoluídas. Para que a criança com Síndrome de Down possa atender a essas solicitações, a própria situação de aprendizagem deve ser organizada de forma a lhe permitir o desempenho esperado.

A maioria das crianças sem limitações, ao chegar à idade escolar já tem familiaridade com lápis e papel, pode permanecer sentada e focalizar a atenção para aprender, pois sua vivência anterior com brincadeiras e jogos, isto é, experiências sensório-motoras, desenvolveu a prontidão para utilizar símbolos e representar experiências.

As crianças com Síndrome de Down podem ter mais dificuldade para essa representação simbólica e também com um tipo de linguagem que não está diretamente ligado ao presente e as coisas que possam ser vistas. As crianças com Síndrome de Down necessitam ter mais experiência sensório-motora para chegar ao ponto em que possam entender e seguir as instruções do professor. A forma “sente-se e aprenda” pode não ser a mais recomendável para elas, especialmente nos primeiros anos escolares. Em quase todas as etapas do desenvolvimento, a aprendizagem do tipo “fazer” pode ser mais produtiva do que aquela que se processa numa atmosfera “pensante”.

Muitas vezes a inclusão é confundida com normalização e esta com negação da limitação e da deficiência. Ao buscar a inclusão da criança com Síndrome de Down, procura-se criar condições para que ela tenha as mesmas oportunidades e direitos, e a “normalizaçao” refere-se à tentativa de que a criança aproveite oportunidades segundo seus próprios recursos. Para que a inclusão seja eficaz devem ser feitas adequações que atendam às condições intelectuais da criança que tem a Síndrome, ou seja, ela é incluída na escola, participando junto com os alunos regulares de atividades como artes e atividades sociais, enquanto que em atividades mais complicadas para ela, há um atendimento especializado.

Ensino e aprendizagem na Síndrome de Down

No passado, a Síndrome de Down era associada a deficiência de moderada a severa, o que inviabilizava o trabalho escolar com essa população. Mais recentemente, estudos tem mostrado uma modificação nessa situação; crianças que vivem com a família, na comunidade, recebendo estimulação adequada desde os primeiros meses de vida, vem apresentando QIs que se situam entre leve e moderado e, quando o instrumento de avaliação utilizado não enfatiza a linguagem, esses resultados podem elevar-se ainda mais.

Além disso, estudos longitudinais têm mostrado que uma ou poucas sessões de avaliação podem levar a resultados distorcidos pois, observou-se que crianças com Síndrome de Down começam a mostrar suas habilidades à partir da sexta sessão e a relação entre habilidade e performance é instável.

Considerando que o comprometimento cognitivo pode estar presente desde o início da vida, já na fase de aquisição do conceito de objeto, a maneira como a aprendizagem se processa é peculiar. A aprendizagem inicial das pessoas com a Síndrome não apresenta diferenças marcantes em relação a outras crianças mas, há dificuldade de consolidar conhecimentos adquiridos. Além disso, a criança tende a não usar a habilidade adquirida e, para fugir de algumas tarefas, talvez difíceis, utiliza as habilidades sociais, já que tem facilidade para envolver afetivamente o adulto e, de certa forma, manipular a situação. Nos estudos de desenvolvimento cognitivo, crianças com Síndrome de Down mostram dependência exagerada do reforço de outras pessoas, procurando auxílio mesmo quando são capazes de realizar as atividades por si mesmas. A dependência da criança em relaçao ao ambiente externo pode ser reduzida, encorajando-a a exercer seu próprio controle na situação de aprendizagem.

Aprender com a experiência, ou seja, aprender fazendo, implica em proporcionar à pessoa com Síndrome de Down a oportunidade de ver, tocar, sentir, manipular objetos, utilizando a experiência de seu dia a dia para o aprendizado. Isto requer um professor que possa utilizar tanto a didática aplicada à educação infantil como aquela usada no ensino fundamental, e também seja uma pessoa disponível para aproveitar “as oportunidades”, isto é, utilizar momentos que podem nao ter sido planejados, mas que podem ser transformados em experiências de aprendizagem.

A pessoa com deficiência pode ter dificuldade de receber e transmitir informações. Entretanto, possui capacidade suficiente para elaborar internamente os dados recebidos, desde que esses dados sejam transmitidos de forma simples. Isto significa que a pessoa pode aprender a processar a informação na medida em que seja assistida de forma constante, conforme a solicitação e necessidade do próprio aluno.

O papel do professor é direcionar os estímulos que a criança recebe, assim ele transforma, organiza, reorganiza, agrupa e estrutura os estímulos em determinada direção, com um objetivo específico, modificando a ordem casual para que haja uma sucessão ordenada. Isso faz com que a criança concentre-se e esteja consciente de determinados aspectos do mundo que a cerca e os diferencie de outros.

Por outro lado, o professor não só direciona a atenção da criança, mas também a auxilia a traçar relações entre o que percebe; observe a ordem e a relação do que está acontecendo com o que aconteceu anteriormente; o professor seleciona o estímulo a ser recebido pela criança, apresentando alguns aspectos de forma especial, enquanto outros recebem pouca ênfase.

Também importante na aprendizagem é o controle sobre a variação e intensidade do que vai ser transmitido à criança. O reaparecimento de certos conteúdos e sua repetição é possível desde a modalidade sensorial concreta até a representacional simbólica, de acordo com o estágio de desenvolvimento da criança. Porém, a repetição não é da tarefa em si e sim da função envolvida, assim esta função está presente em diferentes atividades, facilitando a flexibilidade. Os conteúdos devem ser apresentados um de cada vez, para que a criança possa assimilá-los. Através das estratégias, as dimensões temporal e espacial tornam-se referenciais constantes para a localização de eventos e objetos. Alguns conteúdos podem ser agrupados no espaço com o objetivo de manipulação e no tempo ajudando a criança a evocar eventos já conhecidos. O processo de relacionar objetos e eventos pode ser induzido, colocando-se também estímulos que propiciem a comparação, um processo mental sem o qual não há pensamento relacional. A comparação depois torna-se espontânea.

A constante interação entre professor e criança contrói uma forma específica de funcionamento e motivação. A criança é induzida a procurar ligações entre objetos e eventos; essa busca de significados para uma sucessão de eventos é o pré-requisito para o conceito de causalidade. A busca relações ocasiona uma operação sobre objetos ao invés de uma manipulação de objetos.

O desenvolvimento cognitivo deficiente ou o funcionamento inadequado não deve ser atribuído somente à falta de estimulação, mas também à capacidade da criança de utilizar o estímulo recebido, registrá-lo e integrá-lo à experiência anterior, de forma a ampliar sua capacidade. Quando esta incapacidade está presente, há necessidade de um elemento intermediário que sirva de “ponte” para a criança, até que ela possa aproveitar o estímulo recebido. É o que Feuerstein chama de Experiência de Aprendizagem Intermediada.

Atividades pedagógicas específicas

Algumas atividades podem facilitar o trabalho educacional com a pessoa que tem Síndrome de Down, independente da filosofia e metodologia adotadas.

Conteúdo: geralmente o currículo escolar se concentra em ensino e leitura, escrita e aritmética, preparando a criança para graus cada vez mais avançados na escolarização. Nada impede que crianças com a Síndrome sejam educadas num currículo desse tipo, mas pode ser mais fácil se ela puder também aprender através de experiências rotineiras e não somente através de lápis e papel. As pessoas com Síndrome de Down podem começar aprendendo a ler os nomes de seus colegas de classe, a lista do supermercado, devem aprender a ver as horas e a fazer o troco (e não só aprender a operação no papel). É muito importante que ela saiba escrever seu nome e endereço.

Uma das maiores dificuldades do processo de aprendizagem é aprender alguma coisa no contexto, de uma detemlinada maneira, e utilizá-la numa outra situação. Uma preocupação dos educadores tem sido a utilização do conteúdo aprendido na escola em situações de sua vida fora da escola e também a utilidade dessas experiências em sua vida futura. Se houver um paralelo entre atividades na escola e atividades na vida diária, provavelmente as crianças terão menor dificuldade em transferir aquilo que foi aprendido para outras situações.

Leitura: durante muitos anos os educadores não acreditaram que a pessoa com Síndrome de Down pudesse ler. Entretanto, nos últimos anos, provas em contrário tem se acumulado e hoje essa é uma atividade que faz parte da escolarização de crianças com a Síndrome. É interessante, nesse caso, que se utilize uma forma mais prática do que aquela que se ensina o alfabeto e o som das letras, seguida das regras de combinação. A leitura pode ser praticada de forma analítica e também podem ser oferecidas oportunidades de ler a partir das palavras que já são familiares, que estejam relacionadas a sua realidade concreta. O reconhecimento de seu próprio nome, do nome de seus familiares, amigos, pode ser o começo. Depois, as palavras que designam alimentos, atividades, programas de televisão, etc. O professor pode ilustrar essas atividades com figuras de coisas que já são familiares à criança. Começar a leitura pelas palavras que a criança já conhece pode ser eficaz na aprendizagem dessa decodificação de símbolos. Isto porém, não exclui um outro método de alfabetização utilizado.

A maioria das crianças com a Síndrome de Down precisa ser estimulada e ter oportunidade de praticar a linguagem falada. “Inventar histórias” estimula a expressão verbal, essas “histórias” podem envolver qualquer episódio cotidiano e podem também ser dramatizadas. Embora para um adulto, contar uma estória sobre “preparar e servir o lanche” possa ser desinteressante, as crianças podem se envolver muito elaborando e dramatizando esse conteúdo. É importante que a criança se comunique com sua aprendizagem, ou seja, que ela fale sobre o que está fazendo ou quer fazer. Nesse processo ela vai assimilando, em seu rítmo, um conteúdo maior, a partir do exercício em sí.

Escrita: a coordenação motora fina necessária para segurar o lápis só é conseguida depois que a criança adquire a coordenação motora ampla. A destreza na coordenação motora fina pode ser difícil para a criança com Síndrome de Down e nem sempre o exercício contínuo é eficaz para superar a dificuldade. Muitas vezes, a prática ampla e contínua de um pré-requisito para essa habilidade pode dar bons resultados. Isto significa flexibilidade para poder avançar e/ou retornar a estágios já trabalhados, mas que não foram completamente dominados. Por exemplo, se a criança tem dificuldade na coordenaçao motora fina, ela precisará desenvolver a destreza no uso de objetos grandes como pente, escova de dentes, botões, etc. Mesmo com muita prática, crianças com Síndrome de Down podem escrever lentamente, com dificuldade e, às vezes, sem clareza. Entretanto, é importante que todas as pessoas com a síndrome aprendam a escrever seu próprio nome, mesmo que com dificuldade. Além da escrita em si, o ato social de escrever o próprio nome – assinar – é significativo.

Aritmética: números sao símbolos que representam coisas que podem ser classificadas em grupos e que são similares. Assim, a criança pode aprender a descrever o número de coisas semelhantes presentes numa detemlinada situação. A criança com Síndrome de Down além de aprender adição, subtração, multiplicação e divisão deve também aprender quantas cadeiras, xícaras, pratos e outros objetos são necessários para um determinado grupo. Se a criança não souber contar coisas concretas, a função da matemática perde o significado. Os números são também parte de endereços e telefones. Nesses casos, o número não representa uma sequência e sim um código. As pessoas com Síndrome de Down podem aprender seu próprio endereço e número de telefone, mesmo que isso implique num longo aprendizado. Horários também são parte importante da vida das pessoas. Compromissos, aulas, refeições, jogos acontecem em horários determinados. Saber como ver as horas no relógio é parte de estar no lugar certo na hora certa, pronto para a atividade planejada. O relógio digital é mais fácil de ver, porém as crianças devem aprender a ver as horas no relógio convencional e no digital. Ter um relógio bem visível na sala de aula e comentar os horários das atividades pode ser uma forma de começar a associar a rotina ao horário. Geralmente, as crianças com Síndrome de Down gostam de participar das rotinas se souberem o que vai acontecer, a atividade programada. Elas podem se preparar para mudar de atividade por si mesmas se aprenderem a seguir o horário.

A utilização do dinheiro é uma experiência muito importante. A criança precisa ter oportunidade de exercitar-se através de dinheiro e contas reais; isto pode causar certa ansiedade no início, mas a criança pode aprender através de encenação, sendo, por exemplo, o vendedor e o cliente alternadamente.

Outras atividades: atividades artísticas como música, dança, pintura, etc, podem ser utilizadas de forma dirigida no ensino na Síndrome de Down. Essas atividades não devem estar só voltadas para o aprendizado da arte em si mesma, mas estratégias que as envolvam podem ser empregadas no ensino de diversos conteúdos. Além da arte em si e do apoio pedagógico que ela pode proporcionar, essa atividade pode se tornar um eficaz canal de expressão para a pessoa com a Síndrome.

Há muitas formas de se trabalhar pedagógicamente com a pessoa que tem Síndrome de Down, muitas delas bastante eficazes. Entretanto, é importante que o educador trabalhe também com a família, de forma integrada, pois a família pode ser um recurso importante que proporciona continuidade ao que a criança aprende na escola, ampliando a possibilidade de vivência e aplicação daquilo que é aprendido. Nem só a escola e nem só a família podem ser eficazes isoladamente no que diz respeito ao desenvolvimento pleno. Há necessidade de um intercâmbio contínuo entre escola e família.

Educar uma criança com limitação cognitiva é tarefa complexa; a reflexão educacional deve estar sempre presente, pois ela pode proporcionar ao educador melhores condições de otimizar os estímulos externos, favorecendo a melhor utilização dos recursos internos de pessoas com Síndrome de Down. Porém, mais importante que a metodologia e os recursos utilizados, é a postura no desenvolvimento das atividades. À medida que a criança apresenta uma diferença, a questão é como essa criança pode ser educada, educada para quê e qual a performance que se espera dela.

Como a criança deve ser educada?
Deve ser educada e disciplinada como qualquer outra criança. Os pais devem ensinar-lhe os limites, não permitindo que ela faça tudo o que quiser. Será necessário maior cuidado e atenção, pois a criança demorará mais para aprender as coisas. Devido à agitação e à dificuldade de compreensão é necessário maior firmeza na educação. Embora seja necessário ter maior firmeza e tolerância, é importante não cercar a pessoa com Síndrome de Down de cuidados excessivos ou muita proteção. Apesar de ter algumas limitações, ela não deve tornar-se o centro da família, deve ser uma parte dela, como as outras pessoas.

Qual a escola mais adequada?
Na fase da educação infantil, pode haver adaptação das crianças em uma escola regular, que utiliza brincadeiras e exercícios físicos para ensiná-las. No ensino fundamental, as limitações intelectuais geram dificuldades para a criança acompanhar uma sala regular na escola, e assim suas necessidades especiais devem ter atendimento especializado.

Como é a escolarização e a Inclusão?
Pessoas com Síndrome de Down tendem a precisar de elementos explícitos para compreender as mudanças que ocorrem num ambiente. A percepção daquilo que acontece muitas vezes restringe-se a alguns elementos da realidade e o pensamento abstrato pode ser insuficiente para compreender porque o mundo deve ser modificado. Para contornar essas dificuldades é importante manter a consistência nas rotinas da pessoa e quando houver necessidade de mudanças, preparar a pessoa para a transição de uma situação para outra.

A consistência é facilitadora e confortável para pessoas com Síndrome de Down, pois em geral, é difícil integrar e generalizar as informações; a consistência também ajuda a aprender as atitudes que se espera dela e compreender regras de funcionamento de um ambiente.

Quando a pessoa inicia o processo de sociabilização e socialização, a repetição de comportamentos sociais adequados facilitará o desenvolvimento, por exemplo, comportamento de cumprimento e despedida do dia a dia são oportunidades de repetição que levam à prática de habilidades sociais e mostram a expectativa existente quanto a comportamento e linguagem.

É importante notar a expectativa para cada faixa etária, ou seja, pode ser agradável que uma criança abrace e beije e seja abraçada e beijada pelas pessoas que conhece, mas o mesmo comportamento, se ocorrer de forma insistente por parte de um adolescente ou adulto, pode tornar-se invasivo e desagradável.

Essas modificações de expectativa e comportamento devem acontecer de forma gradativa, para que a pessoa possa compreendê-las. Elevar ou diminuir as expectativas sem explicação pode causar confusão e reações difíceis. Regras existentes no ambiente ou nas atividades devem ser consistentes ao longo do tempo. Por exemplo, se não é permitido tirar os sapatos na sala de aula, esse comportamento deverá ser corrigido sempre que aparecer. Considerando que há muitos acontecimentos numa sala de aula ou num determinado ambiente ou atividade, pode ser difícil garantir que todas as atitudes serão consistentes, porém o cuidado com algumas situações pode levar a um melhor funcionamento em situações sociais em geral.

Pessoas com limitação cognitiva podem sentir a sala de aula pouco estimulante, isso pode levar à autoestimulação, quando o corpo procura algum tipo de movimento, geralmente repetitivo. Uma forma de diminuir ou evitar a autoestimulação é mesclar atividades que envolvam movimento e diversidade às atividades “mais paradas”, de forma que o(a) estudante possa satisfazer a necessidade de movimento e diversificação, e também possa manter a atenção mais estável nas atividades intelectuais.

Comportamentos inadequados podem surgir como reação a contextos inadequados.

Se o(a) aluno(a) tem dificuldade de se adaptar ao ambiente, alguns itens devem ser verificados:

1. O aluno está confortável?
Deve ser verificado se não há algum desconforto, pois muitas vezes a pessoa com Síndrome de Down não consegue expressar exatamente suas sensações físicas, sentimentos ou frustrações e essa dificuldade faz com que ela mostre por meio de comportamentos indiretos aquilo que está acontecendo com ela. Atitudes inadequadas, na grande maioria das vezes, não são gratuitas, e devem ser compreendidas em seu significado.

2. As atividades são motivadoras?
As atividades devem estar de acordo com o nível de desenvolvimento do aluno. Quando o desafio da aprendizagem é grande demais e desproporcional à sua capacidade, pode tornar-se desestimulante e a reação é desistir e dispersar-se. Pessoas com Síndrome de Down, geralmente, fazem um esforço maior do que a maioria das pessoas para desenvolver atividades que envolvam funções cognitivas, por isso, é interessante planejar pausas que possibilitarão que o(a) aluno(a) perceba as atividades de forma interessante, sem interferência do cansaço, e que pareçam possíveis de desenvolver.

Além disso, pouco ou nenhum desafio pode levar a desmotivação, diminuindo a produtividade escolar. Se não houver condições de valorizar o empenho da criança, por exemplo, se qualquer resultado é aceito, mesmo que não esteja integrada ao trabalho do grupo, ela poderá sentir-se isolada e com pouca importância no trabalho pedagógico e na rotina escolar. Geralmente estas situações geram atitudes reativas: desinteresse, descumprimento de regras, provocações e outras.

O mais adequado seria observar e perceber as competências pedagógicas de cada criança em cada momento e manter atividades no nível de suas capacidades com desafios gradativos, garantindo sucesso na realizacão dos trabalhos.

3. Alunos com Síndrome de Down muitas vezes não conseguem se comunicar em diversas situações do dia a dia, e podem surgir situações no relacionamento interpessoal em que eles não consigam se expressar e isso leva ao surgimento de conflitos. É importante que pessoas com Síndrome de Down aprendam expressões básicas que lhes permitam sair de situações desagradáveis ou conflitivas e também expressões usadas no cotidiano, oque facilitará o convívio social. A adaptação ao ambiente escolar é parte importante da inclusão e deve receber a mesma atenção que recebe a atividade pedagógica. Muitos estudantes com Síndrome de Down conhecem poucos ambientes além do familiar e precisam aprender como funciona o ambiente escolar, as regras existentes e a função das pessoas, por isso, este aspecto também deve ser ensinado e explicitado, para facilitar a adaptação.

Aspectos básicos como compreender as regras, atender instruções, solicitar ajuda, expressar pensamentos e sentimentos de forma compreensível, desenvolver atividades individuais e participar de atividades coletivas de forma adequada podem ser trabalhados na medida em que as atividades são desenvolvidas.

Entretanto, garantir a compreensão e favorecer a adaptação não deve ser confundido com privilégios. A pessoa com Síndrome de Down pode necessitar de mais tempo, algum tipo de monitoramento ou supervisão, mas deve ter a oportunidade de participar da rotina apenas com a ajuda e adaptação que realmente se fizerem necessárias. Algumas vezes conquistar privilégios na rotina escolar pode dificultar sua adaptação e seu relacionamento com o grupo.

O professor deve sempre perguntar-se: “Eu faria isso com qualquer aluno?” Caso sua resposta seja não – deve ter claro que aquela é uma situação de fato necessária para garantir a inclusão e não uma forma de facilitar ou compensar outras dificuldades. Cada situação deve ser analisada particularmente, respeitando e considerando as necessidades individuais.

Adequação Pedagógica

Antes de qualquer adequação é necessário verificar as condições do aluno. É importante que a pessoa desenvolva, dentro de suas condições, as mesmas atividades que os colegas desenvolvem. O material pode variar mas, por exemplo, quando o grupo trabalhar com lápis e papel, o mesmo deve ocorrer com o aluno) com Síndrome de Down; quando a atividade for prática, esportiva, artística, a participação será nesse tipo de atividade, ou seja, evita-se diferenças significativas no tipo de atividade desenvolvida. Já nos aspectos pedagógicos e nas competências acadêmicas, as adaptações servem para garantir os mesmos direitos na participação e as mesmas condições de reconhecimento de seu esforço e desempenho. Assim, por vezes são necessárias mediações, que podem ocorrer em alguns níveis:

1- A mesma atividade do grupo com apoio e intervenções do professor ou de um colega

2- A mesma atividade do grupo com apoio de materiais

3- A mesma proposta, na mesma modalidade, porém com adaptações previamente planejadas para garantir o resultado e o sucesso. Por exemplo, quando o grupo está trabalhando com interpretação de textos e o(a) aluno(a) com Síndrome de Down está em fase de alfabetização, pode-se usar o mesmo tema do texto, lista de personagens, correspondência das palavras do texto etc. Os professores são muito criativos e detém conhecimento de diversas estratégias para as adaptações.

4- Atividade específica atendendo a necessidade pedagógica do aluno em momento individual na classe ou não. A repetição de situações de fracasso ou pouca valorização nos resultados levam a desmotivação e comportamentos reativos. O aluno deve vivenciar conquistas, receber reconhecimento de sua produtividade, sentindo-se capaz de participar.

Diferenciar os meios para igualar as oportunidades

É melhor fazer adequações do que deixar o estudante sem compreender ou poder participar, sentindo-se incapaz e distante dos seus amigos. O aluno deve poder compreender ou perceber que a atenção especial ou individual que recebe é necessária e isso denota o quanto é importante sua participação, por isso algumas vezes receberá materiais ou intervenções diferenciadas.

Em geral as pessoas com Síndrome de Down percebem de alguma forma sua condição desde muito cedo; isto não significa uma compreensão abstrata da Síndrome, mas uma percepção de que há algo específico referente a ela. Por isso as adequações devem levar em conta essa percepção e a atitude do educador pode, em alguns momentos, explicitar essa condição, ou seja, a atenção especial é necessária e pode se dito ao estudante que o material que ele está utilizando é necessário para que ele aprenda melhor. De qualquer modo as saídas da classe ou as adequações mais individualizadas não devem acontecer o tempo todo e isoladas. Deve poder retornar ao grupo sala e compartilhar suas conquistas. Afinal a aprendizagem é social!

As pessoas com Síndrome de Down podem ter melhor desempenho quando as instruções forem visuais, por isso é importante reforçar as instruções, solicitações e/ou tarefas com modelos que a pessoa possa ver; com crianças, essas ilustrações devem ser grandes e chamativas com cores e símbolos fáceis de compreender; a linguagem verbal, por outro lado, deve ser simples, com frases curtas e palavras que as crianças conheçam.

Há várias formas de praticar a Inclusão.

Alguns educadores retiram o aluno da sala de aula para ensinar conteúdos específicos, essa prática pode ser adotada quando a pessoa não consegue se manter em atividades semelhantes àquelas que o grupo desenvolve. Essas “saídas” devem ser monitoradas para que o estudante não fique prejudicado nas atividades desenvolvidas na sala de aula. Outra forma de praticar a Inclusão é com a adoção de um “Tutor” que tem a função de acompanhar o aluno nas atividades escolares.

Alfabetização

A abertura de oportunidades e a utilização de técnicas adequadas de ensino mostraram que a possibilidade de escolarização de pessoas com Síndrome de Down. Em propostas filosóficas educacionais construtivistas, em que se espera que o estudante tenha autonomia e estabeleça relações rápidas e consistentes, a pessoa com Síndrome de Down necessita de caminhos e apoio na organização das informações.

O professor e a família podem contribuir com sistematizações e repetições das atividades. O uso de material extra e a organização dos conhecimentos podem favorecer muito nesse processo. Pessoas com Síndrome de Down podem aprender a ler e escrever.

A limitação cognitiva presente na Síndrome de Down, em graus que variam de pessoa para pessoa, altera o ritmo de aprendizagem, o processamento de informação e também a memória visual, a memória auditiva, a atenção e a motivação. Essas alterações tornam a aprendizagem diferente, muitas vezes mais lenta, mas não impossível.

Todas as pessoas nascem com um potencial para a aprendizagem. A realização desse potencial depende da genética, do meio-ambiente e da educação, que pode aproveitar todos os recursos existentes na pessoa. A educação é a porta de entrada para a aprendizagem.

Algumas práticas podem ser utilizadas para facilitar o processo de aprendizagem para a pessoa com Síndrome de Down:

1. Ritmo de aprendizagem: limitações cognitivas resultam em um ritmo mais lento e pode haver capacidade diminuída para aprender. Embora entre estudantes com Síndrome de Down esse ritmo situe-se entre 50 e 75% , quando comparados com o ritmo de estudantes sem a Síndrome, eles(as) podem progredir através de estágios de desenvolvimento semelhantes. A aquisição de novas habilidades pode ser mais lenta, assim como a permanência num determinado estágio pode ser mais longa, por isso, as atividades devem ser compatíveis com o nível de desenvolvimento do estudante e não somente com a idade cronológica.

Prática: exercitar e repetir muitas vezes a mesma tarefa e tarefas ligadas ao mesmo objetivo.

2. Processamento de informação: dificuldades no processamento de informação limitam a quantidade de informação que o estudante pode elaborar, armazenar e utilizar, assim como altera também o ritmo de compreensão. Podem estar presentes dificuldades de assimilar instruções e integrar novas informações àquelas já aprendidas. A aprendizagem incidental, que é a habilidade de assimilar conhecimento e informação por meio da observação e exploração indireta é mais difícil para a pessoa com Síndrome de Down, geralmente, tudo o que ela sabe, foi ensinado por alguém e poucas vezes foi aprendido pela exploração espontânea.

Prática: utilizar objetos concretos e/ou situações da vida real antes de introduzir conteúdos novos e conceitos abstratos.

Utilizar temas comuns a várias áreas, de forma a integrar a informação.

3. Sequenciação: pessoas com Síndrome de Down podem ter a habilidade de antever como vai ser a continuação da atividade ou situação diminuída, assim como também pode haver dificuldade de associar as partes ao todo.

Prática: “quebrar” as atividades em pequenas partes pode facilitar o aprendizado. A situação ou tarefa deve ser “desconstruída” para depois ser reconstruída.
– Utilizar estímulos amplos e diversificados, assim como materiais visuais e táteis.
– Aumentar o número de repetições, proporcionar mais tempo para a realização da tarefa proposta.

4. Generalização: implica numa dificuldade para aplicar conceitos em novas situações ou atividades, muitas vezes, pessoas com Síndrome de Down limitam o que aprenderam a um só contexto, ficando pouco preparadas para lidar com situações diferentes que envolvam estratégias semelhantes.

Prática: explorar situações novas e diferentes daquelas presentes nas tarefas.

5. Atenção: muitas vezes a criança com Síndrome de Down é agitada e dispersiva nas atividades, precisando de ajuda para que, aos poucos, vá aumentando seu período de atenção e consiga ficar mais tempo envolvida com a mesma tarefa.

Prática: quando a tarefa exigir atenção prolongada, a criança pode trabalhar com algum distanciamento do grupo, a dinâmica pode ser aplicada a toda classe ou grupo, de forma que a criança com Síndrome de Down não se sinta diferenciada ou excluída. Esse distanciamento ajuda a diminuir a estimulação do ambiente e ela pode se deter em sua tarefa.

Desenvolvimento motor

O desenvolvimento motor acontece de uma forma contínua, de forma que a coordenação motora fina, necessária para a aquisição da escrita, ocorre após o domínio de movimentos mais amplos. Para aprender a escrever, a pessoa deve ter domínio dos movimentos, firmeza no corpo, estabilidade e equilíbrio, que ajudam a iniciar, executar e completar os movimentos. As atividades motoras tornam-se interessantes na medida em que o corpo está preparado para a ação, o tônus muscular é adequado, há firmeza nas mãos e estabilidade articular, com isso, as tarefas escolares podem ser mais gratificantes e a motivação maior. Essas condições devem existir paralelamente à estimulação cognitiva do ambiente em que a criança vive.

Assim, o aprendizado escolar é mais envolvente para crianças que têm contato com livros, revistas, papel, lápis e outros materiais que favoreçam o desenvolvimento intelectual. Para que a pessoa com Síndrome de Down possa desenvolver sua motricidade, alguns aspectos podem ser trabalhados:

1. Imitação: imitar movimentos de outra pessoa pode ser o primeiro passo para a pessoa com Síndrome de Down dominar seus próprios movimentos. Executar algum movimento e pedir para ela repetir pode ser um exercício fácil e lúdico. Brincando de espelho – “Faça como eu faço”, ou realizando atividades em conjunto, como construir torres com blocos de montagem, são formas de ajudar a criança a controlar seus movimentos.

2. Jogar bola: pode-se usar tanto uma pequena bola pesada, como também bolas leves. É um jogo simples em que a criança deve coordenar olho-mão.

3.Coordenção bilateral: escrever é uma atividade que envolve as duas mãos, com uma a pessoa segura o papel e com a outra segura o lápis. Antes de chegar à prontidão para a escrita, atividades que envolvam as duas mãos devem ser incentivadas.

4.Dominância lateral: quando conquista a coordenação bilateral, a criança deve ser incentivada a estabelecer a dominância de uma das mãos. Observar a criança durante as atividades ajuda a perceber qual a mão que ela usa mais, que tende a ser a mão dominante. Por exemplo, com qual das mãos ela segura a colher, abre a porta ou aponta para um objeto. Quando essa dominância é definida, a alterância das mãos deve ser desencorajada.
O movimento de pinça, utilizado para segurar o lápis, pode ser desenvolvido com atividades como:

1. Apertar objetos como esponjas; amassar massa de modelar, bater com martelinho, cortar com tesoura.

2. Abotoar, fazer nós e laços, passar contas, rasgar e dobrar papéis, fazer quebra-cabeças.
Muitas atividades rotineiras em casa proporcionam oportunidades para a pessoa exercitar habilidades motoras. A família deve estar pronta para permitir que a pessoa com Síndrome de Down desenvolva atividades do dia-a-dia de forma independente desde os primeiros anos. A própria criança mostra vontade de fazer as coisas, e isso é um sinal de que está pronta para desenvolver aquela habilidade; as pessoas que convivem com ela devem ajudá-la no que for necessário, ensinar aquilo que ela não sabe ou tem dificuldade, mas nunca fazer no lugar dela.

Escrita

Geralmente, a pessoa com Síndrome de Down apresenta uma diferença entre sua capacidade intelectual, a capacidade de leitura e a habilidade motora. Dessa forma, nem sempre ler e escrever se desenvolvem no mesmo ritmo, mesmo assim, ambas devem ser estimuladas, apesar das diferenças.

Algumas habilidades tornam mais fácil a aprendizagem da escrita, embora não sejam condições essenciais, por exemplo:

1- Conseguir segurar o lápis de forma adequada e firme, sem agarrar; nem sempre a pessoa consegue fazê-lo de forma correta, mas se consegue controlar o lápis, o aperfeiçoamento do movimento será feito aos poucos.

2- Conseguir fixar a atenção no papel por algum tempo. A pessoa deve conseguir controlar o movimento da mão no espaço da folha de papel, fazendo movimentos voluntários dentro desse limite. O período de atenção pode ser curto no início, aos poucos, a pessoa vai aprendendo a realizar o que quer na folha de papel e consegue manter-se atenta na atividade.

3- Ter alguma coordenação visuomotora, ou seja, a pessoa deve conseguir acompanhar com os olhos os movimentos que realiza no papel.

4- Ter alguma orientação espacial, ou seja, ter alguma intencionalidade no traçado; a pessoa deve saber onde começa e onde vai terminar seu movimento.

5- Ter controle de movimentos: a pessoa deve conseguir parar quando termina uma etapa de sua tarefa, por exemplo, uma letra, uma palavra ou mesmo um traço.

A aprendizagem da escrita começa com rabiscos no papel, que a maioria das crianças consegue fazer desde muito cedo. No início podem ser usados lápis preto e lápis de cor, brincadeiras numa pequena lousa são gratificantes para a criança e podem aumentar a motivação.

Na medida em que a criança adquire maior controle de movimentos, ela pode ser estimulada a realizar traços verticais e horizontais. Você pode realizar um traço no papel e pedir à criança que faça o mesmo, assim: “Veja o que eu fiz, faça um igual”; se a criança tiver muita dificuldade, você pode ajudá-la fazendo com a mão o movimento que ela deve fazer com o lápis no papel.

Outra forma de estimular a criança nesta tarefa, é pedir a ela que ligue dois desenhos com um traço. Você pode colocar uma figura ao lado da outra e/ou uma em cima e a outra embaixo.

Linhas inclinadas e linhas circulares podem ser ensinadas usando um modelo para a criança copiar.

Também pode fazer um desenho com linhas pontilhadas sobre as quais ela deve fazer um traçado sólido.

Quando a pessoa já executa bem esses traçados e tem boa noção de direção, letras e números podem começar a ser mostrados para que ela tente copiar. Muitas vezes, a pessoa executa o movimento com mais facilidade se puder “senti-lo” antes, ou seja, ela pode “escrever” a letra ou número com um dedo antes de faze-lo com o lápis. Por exemplo: ela pode contornar com o dedo a letra “a”, depois riscar sobre o pontilhado, e só então escrever de fato a letra. Letras móveis podem ser utilizadas para variar essa atividade.

Esses exercícios podem ser feitos com letras, palavras e números. No caso de palavras, é interessante começar com aquelas que são mais familiares, como o nome da própria pessoa, dos pais, irmãos, colegas, etc. Letras e números podem ser mostrados desde sempre. O nível de expectativa ou de exigência com esses materiais é que deve ser gradativo. O trabalho com letras ou sílabas móveis facilita o letramento (processo de Imersão no mundo da escrita), favorecendo o próprio aprendizado da movimentação gráfica – do desenho das letras e números. Letras e números podem ser mostrados desde sempre.

Perguntas Frequentes*

* As respostas às perguntas tiveram por base o livro “A sala de aula inclusiva: trabalhando com deficiências e altas habilidades, de autoria de Daniela Alonso e Sonia Casarin. São Paulo, Guia dos Curiosos Comunicações, 2012. Não publicado.

O que é inclusão escolar?

É o atendimento, com qualidade, nas classes comuns do ensino regular, dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. A inclusão deve garantir a todas as crianças o acesso aos conteúdos básicos que a escolarização deve proporcionar a todos os alunos. A escola inclusiva tem no currículo, na metologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educadores, ou seja, em seu projeto pedagógico, uma postura que favorece a interação social, a participação e a aprendizagem de todos os alunos. Assim, não basta a escola aceitar a matrícula de alunos com necessidades especiais, pois é necessário haver suporte necessário para a operacionalização desse projeto pedagógico inclusivo.

O que são necessidades educacionais especiais?

São condições dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem e requerem, da escola, uma série de recursos e apoios de caráter especializado, como por exemplo, linguagem alternativa no caso da deficiência visual ou materiais concretos no caso da Síndrome de Down. Por meio desses recursos e apoios, os alunos com necessidades educacionais especiais têm acesso ao currículo, o que possibilita a aprendizagem e amplia a possibilidade de participação e interação social. Embora algumas necessidades educacionais especiais sejam facilmente reconhecíveis, como por exemplo, a deficiência física, qualquer aluno, ao longo do processo de escolarização pode apresentar alguma necessidade educacional especial que precisa ser atendida, mesmo que seja transitória, ou seja, por um período de tempo limitado.

Como os alunos com Síndrome de Down podem se beneficiar da sala de aula comum?

Pelo planejamento que considera a condição do aluno e desenvolve atividades que privilegiem as possibilidades dos alunos. A resposta educativa da escola deve disponibilizar recursos e apoios que possibilitem aos alunos que têm essa Síndrome o acesso ao currículo e, assim, eles possam atingir os objetivos pedagógicos. As adequações são feitas considerando as características cognitivas, sociais e emocionais que o aluno apresenta.

Que tipo de recursos ou apoios pode ser necessário?

Depende da necessidade do aluno. As deficiências podem oferecer exemplos de recursos e apoios necessários, assim, um aluno surdo precisará ter oportunidade de aprender a linguagem de sinais (LIBRAS), um aluno cego precisará aprender o braile, um aluno com deficiência intelectual precisará desenvolver estratégias para focalizar a atenção, memorização e pode precisar de flexibilização no conteúdo a ser aprendido. Os alunos com deficiência intelectual, como acontece na Síndrome de Down, podem ter dificuldade de dominar todo o conteúdo oferecido a alunos sem deficiência.

Como são avaliadas as necessidades educacionais especiais?

Por meio de avaliação pedagógica dos diversos aspectos da aprendizagem e do desenvolvimento do aluno, ou seja, suas condições individuais e as condições dos contextos envolvidos em seu desenvolvimento, as condições da escola, da turma e da sala de aula. A avaliação visa obter informações sobre as potencialidades, as dificuldades e sobre o estilo de aprendizagem do aluno para subsidiar a elaboração do planejamento escolar.

Quem faz a avaliação das necessidades educacionais especiais?

A própria equipe da escola pode fazê-la, se estier instrumentalizada para isso. Do contrário, uma equipe multiprofissional pode fazer a avaliação, nesse caso, formam-se parcerias com médicos, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais, que poderão auxiliar a escola na identificação das necessidades educacionais especiais, assim como no planejamento do atendimento educacional especializado. A avaliação não deve ser um procedimento estático e sim caracterizar-se como um processo que busca a compreensão das condições e das características do desenvolvimento do aluno ao longo do tempo.

O que é atendimento educacional especializado (AEE)?

É um atendimento que busca ajudar o aluno com dificuldade de aprendizagem ou deficiência a superar as barreiras existentes e, com isso, possibilitar a aprendizagem e a participação. O AEE não é uma repetição ou complementação do conteúdo acadêmico. É uma intervenção que trabalha diretamente sobre as barreiras que provocam a incapacidade utilizando serviços e recursos da educação especial. O Atendimento Educacional Especializado não substitui a escolarização.

Onde é feito o Atendimento Educacional Especializado?

Preferencialmente na própria escola, no contra turno, ou seja, no período em que o aluno não tem aula ou atividades curriculares. As atividades desenvolvidas no AEE são planejadas de acordo com as necessidades do aluno e podem cessar tão logo as barreiras seja superadas. Caso a escola não tenha condições de oferecer esse atendimento, pode estabelecer parcerias com serviços ou escolas de ensino especial existentes na comunidade, que podem ajudar o aluno na superação das barreiras que impedem a aprendizagem e/ou a participação na escola.

Como é feito p Atendimento Educacional Especializado?

Pode ser feito em salas de recursos multifuncionais nas quais o professor de educação especial realiza a intervenção para a superação das barreiras que impedem a participação ou a aprendizagem. Esse atendimento busca responder às necessidades educacionais do aluno.

O que são salas de recursos?

São serviços de natureza pedagógica, conduzidos por professores especializados, que complementam as atividades escolares realizadas nas salas comuns; são locais com equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades especiais dos alunos, por exemplo, materiais para exercício motor, estimulação de raciocínio lógico, atividades para atenção focalizada etc. Esses equipamentos e recursos visam eliminar as barreiras que impedem a aprendizagem e a participação dos alunos com necessidades educacionais especiais no processo de escolarização. As atividades desenvolvidas na sala de recursos não visam a repetição das atividades desenvolvidas na sala de aula.

Como as atividades na sala de aula devem ser planejadas para que todos aprendam?

O professor deve ter conhecimento da necessidade do aluno com Síndrome de Down e, para cada necessidade podem ser feitas adequações e flexibilizações. Por exemplo, oferecer as informações em pequenas unidades de fácil visualização, e é interessante que o professor busque a atenção do aluno por meio do contato de olho, chamando-o pelo nome e utilize materiais visuais e materiais concretos para facilitar a compreensão da atividade. Em qualquer situação, os outros alunos não serão prejudicados por essas adequações.

Os alunos que não têm Síndrome de Down podem se sentir preteridos quando o aluno que tem a Síndrome recebe mais atenção do professor?

Se as atividades forem planejadas de modo que as atividades contemplem a todos os alunos, as adequações não exluirão aqueles que não têm a Síndrome ou necessidades especiais. Por exemplo, figuras que olustrem o conteúdo ensinado para o aluno que tem a Síndrome de Down podem ser observadas por todos os alunos. Um computador utilizado pelos alunos que têm a Síndrome pode ser compartilhado com todos em alguns momentos. Além disso, a inclusão envolve a participação de todos no processo, não é uma situação diádica, entre professor e aluno. Se todos estiverem envolvidos no processo, ninguém será preterido.

O que o professor pode fazer para favorecer a inclusão?

As atividades desenvolvidas devem ser planejadas de modo que poossibilitem a participação de todos os alunos e não discrimine o aluno com Síndrome de Down para algumas práticas específicas. O envolvimento dos outros alunos e a escolha de estratégias que impliquem a participação de toda a turma evita a discriminação e o distanciamento do aluno que tem a Síndrome. Podem ser planejadas atividades em pequenos grupos, em pares, e também podem ser feitas tutorias com os próprios alunos. Neste caso, os colegas podem compreender a Síndrome de Down e podem aprender a conviver com ela.

O contato de crianças que não têm Síndrome de Down pode levar a comportamentos inadequados?

Comportamentos inadequados podem aparecer em qualquer aluno, com ou sem a Síndrome, e devem ser trabalhadas de modo semelhante em todos os casos. Se são comportamentos que inviabilizam a convivência social, devem ser trabalhados para que tanto o próprio aluno que os apresenta como os outros alunos possam saber o que é necessário para a vida coletiva e possam modificar sua conduta. O aluno com Síndrome de Down pode precisar de mais tempo para aprender algumas regras e procedimentos adaptativos, mas em seu próprio ritmo e também poderá ser integrado ao grupo.

Os alunos com Síndrome de Down têm condição de se adaptar a uma turma de ensino comum?

Na inclusão escolar pretende-se que a escola atenda as condições do aluno e não o contrário. Essa foi a grande modificação trazida pela inclusão: o sistema educacional deve se modificar e se reorganizar para oferecer possibilidades de aprendizagem a todos os alunos, particularmente aqueles com necessidades educacionais especiais, entre os quais estão os alunos com Síndrome de Down.

A presença de alunos com Síndrome de Down na sala de aula prejudica o desenvolvimento de alunos sem a Síndrome?

Considerando o desenvolvimento global, que abrange os aspectos motor, cognitivo e sócioemocional, a inclusão possibilita a convivência com pessoas diferentes e não há possibilidade de reduzi-las a estereótipos. Nesse sentido, a inclusão favorece o desenvolvimento de todos. A educação inclusiva não se reduz ao desenvolvimento cognitivo ou a simples memorização de conteúdos, busca, sim, a formação do ser humano.

A inclusão de alunos com Síndrome de Down em uma turma de ensino comum obriga a alteração das atividades da aula?

As atividades serão alteradas tanto quanto são alteradas pelas particularidades de qualquer outro aluno, do contrário o ensino será padronizado. Quando o professor planeja as atividades da aula, considera as condições da turma e são ofertadas oportunidades de desenvolvimento a todos de maneira flexível. Muitas vezes o planejamento é feito antes que o professor conheça o aluno, esse é um dos obstáculos à inclusão, pois as necessidades especiais exigem a particularização do ensino e não cabem em uma educação padronizada.

Como o professor pode manter o ritmo de ensino-aprendizagem se tem alunos com Síndrome de Down na sala?

Por meio do planejamento de atividades que possibilitem a participação de todos os alunos, por exemplo, trabalhos em pequenos grupos favorecem a interação e a cooperação entre os alunos, assim, ninguém “perde o ritmo”. Incentivar a tutoria entre os alunos também possibilita que todos conheçam e compreendam as necessidades de cada um.

É possível desenvolver um trabalho de inclusão eficaz em turmas de 30 ou 40 alunos?

Uma turma numerosa pode prejudicar a qualidade do ensino para todos os alunos dessa turma. Assim, a dificuldade não surgiria com a presença de um aluno com Síndrome de Down e sim com o número de alunos em si. Se consuderarmos, hipoteticamente, que esses alunos tenham condições homogenesas de aprendizagem e que o processo ensino-aprendizagem aconteça efetivamente, a apresença do aluno com a Síndrome em uma turma de 40 alunos exigirá 1/40 do cuidado do professor, o que pode constituir uma tarefa possível. Objetivamente, as turmas não são homogêneas tendo em vista a diversidade humana. Assim, o cuidado com o aluno que tem Síndrome de Down será semelhante ao cuidado com outros alunos. Além disso, o processo inclusivo não se esgota na sala de aula. O aluno com a Síndrome recebe atendimento extra sala para, gradativamente, superar as barreiras à aprendizagem e participação escolar.

Como o professor pode promover a inclusão quando há poucos recursos materiais?

A habilidade do professor de desenvolver o processo ensino-aprendizagem é mais importante do que os recursos materiais. Entretanto, estes são necessários e parcerias podem ser estabelecidas – é um desafio para os gestores. A inclusão acontece na sala de aula, mas faz parte de uma rede que envolve toda a equipe escolar, a família do aluno com Síndrome de Down, as famílias dos outros alunos, a comunidade ampla da qual a escola faz parte. Cabe fortalecer os laços com essa rede para que nela os recursos possam ser encontrados.

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